terça-feira, 8 de março de 2011

Velhos tempos de Matinê


Jovens super descolados numa super matinê num super clima de azaração!


Segunda-feira sempre era um alvoroço na escola. Dia de colocar todas as novidades do fim-de-semana na pauta, mas o assunto campeão era um só: a matinê de domingo.

Durante toda a semana, a turma já vinha comentando sobre como seria a próxima matinê – toda edição era especial. “Ah, dessa vez vão tocar só funk composto por canhotos nascidos no dia 17 de julho!”, então sempre havia um motivo pra ir. Mas claro que o motivo principal era brincar de boate.

Os distribuidores de flyers eram reis no colégio. Eles andavam com sua mochila cheia de panfletos, e os pré-adolescentes cercavam as criaturas na hora do recreio como se colocassem uma bolsa de O- numa caverna lotada de morcegos. Engraçado é que eles eram proibidos de distribuir flyer na porta da matinê, então no dia do evento agiam como cambistas – andavam escondidos, à espreita, e falavam com o canto da boca. “Psiu... Você aí, menininha de rosa, descontinho aí, vai? Descontinho?”. E sim, elas queriam descontinho.

Na primeira vez que eu fui numa dessas eu tinha 14 anos, e lembro que pensei no termo “dança do acasalamento” umas 300 vezes. E me toquei de que se você pensa nessas coisas, é porque você de fato não nasceu pra isso.

Outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de ver adolescentes segurando Sukita e Guaraná como quem segura um copo de uísque, dando aquela balançadinha no gelo e tudo (já que a bebida alcoólica é terminantemente proibida). Isso me leva a uma pergunta: como conseguiam encarar uma matinê sóbrios? Então, vinha o DJ e perguntava: “Quem já beijou na boca, aí?”. A regra é: levante a mão. Não importa se beijou ou não. Sempre levante a mão. Sempre. Se for o caso, balbucie algo que lembre a palavra “eu” ou “yeah”.

Daí, o microfone anunciava: “Fulana, favor se dirigir até a saída do clube, seu pai o aguarda”. Se descobrissem quem era Fulana, era o fim de sua vida em sociedade. Um urro estridente corria toda a matinê, e a criatura perdia de imediato a vontade de viver. Anos de terapia. Provavelmente vai virar diretora para um abrigo de cães superdotados ou algo assim. O ideal era a fulana urrar também, dar uns 10 minutos e falar pros amigos que tá indo embora. Assim ela vai ter alguma chance de vencer na vida.

De volta pra escola, no dia seguinte, rola a famosa contagem. “Pegou quantas?” “Pô, uma loira, duas morenas e duas ruivas”. E quando vai ver de verdade, o que o camarada pegou mesmo foi uma grande habilidade em contar lorotas. O que não é pra todo mundo, devemos reconhecer.