segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Feiras de Colégio

O término de mais uma feira, em qualquer colégio próximo de você

Poucas coisas no mundo escolar são tão ridiculamente absurdas quanto feiras de colégio.

Nos preparativos, sempre são os pais que acabam se ferrando. O filho querido sempre avisa sobre a feira dois dias antes de acontecer, e que o trabalho vai substituir a prova, e que ele vai repetir de ano se não fizer o trabalho direito. Cabe ao pai e à mãe, então, deixar a barraca a mais espetacular possível. Eles não vêem só uma barraca ali, vêem um ano de investimento.

Nunca entendi este conceito. Quer dizer, ao invés de fazer uma prova, você monta uma barraquinha, pega umas cartolinas coloridas e pronto: você já sabe tudo de física, matemática e história. “Quem descobriu o Brasil?” “Sei lá! Mas olha que bonito meu origami de jornal molhado!”

E o que são aquelas cartolinas com camisinhas coladas? Acho que toda camisinha deve se sentir envergonhada. Quando abrem o pacote, ela pensa: “Oba! Vou entrar em ação! Tá certo que a luz do dia tá na minha cara, mas não vou julgar meu dono, né? Epa, peraí, é uma criança? Epa, uma cartolina? Ah, não! Trabalho escolar nãaaaaao....”. E pronto, lá se vai a reputação para com os outros preservativos. Para as camisinhas não se sentirem solitárias, entra em cena o show de horror de fotos das mais variadas doenças sexualmente transmissíveis possíveis. Tem fotos que não dá pra acreditar. Algumas você vê e pensa que só seria possível se fosse num pato ou num jacaré. Porque não é possível.

Então começa a jornada dos pais entre papelarias, lojas de madeiras, lojas de ferragens, mercearias, casas de festa, casas de feitiçaria e depósito de bebidas (já que ninguém é de ferro). Passam a noite toda em claro, xingando o filho até a orelha da criança declarar greve.
A paciência vai acabando conforme a madrugada avança. No início, escritas na cartolina, há belas frases como: “Napoleão Bonaparte foi um poderoso conquistador que dominara com esplendor um sortilégio de inimigos”. Já no final, há frases como: “Aí danou-se tudo pro francês, acabou o milho, acabou a pipoca”.

Depois de dormir por cinco minutos, toca o despertador e a criança vai pra escola com os trambolhos. Na menor ameaça de deixar o trabalho cair, a mãe grita como se a vida dependesse disso. Montam-se as várias barraquinhas e os professores começam a desfilar. E o negócio funciona mais ou menos como visita de fiscais em restaurantes: tudo brilhando quando eles aparecem, tudo esculhambado quando vão embora. Até as balinhas que você colocou fora da validade são escondidas.

Acontece também uma troca de turnos, quando é trabalho em dupla. “Oh, agora eu vou dar uma volta, fica aí na barraca, certo?”. Isso é receita pro desastre. Sempre tem um filho da mãe que fala que vai comprar churros e não volta nunca mais. Aí você fica apertado pra ir no banheiro. Aí você lembra que não pode abandonar a barraca. Aí você abandona mesmo assim. Aí quando você volta vê que construíram uma Estácio onde antes era sua barraca.

Então, resumindo tudo: não precisa estudar, é só manter os professores longe das balinhas vencidas que seu ano escolar está garantido!